Electrodoméstico...cídio

A inveja é um sentimento muito feio nos seres humanos. Nas máquinas é ainda pior, ou pelo menos, tem consequências mais vísiveis.
Há tempos escrevi à minha máquina de lavar roupa. Não sei se por consideração, se por respeito, a verdade é que ela se tem comportado há altura, ou seja, não tem feito grandes distúrbios (leia-se inundações).
Pois ontem percebi que a homóloga da loiça sentiu inveja da atenção que tenho dispensado à amiga (apenas porque o orçamento não me permite mandá-la embora de vez) e eis que decidiu dar nas vistas, provocando nova inundação!
Mais um momento de rara beleza, do qual me abstenho de contar os pormenores.
Ao que tudo indica foi um tubo que se “passou da marmita”.
Cozinha limpa, loucinha lavada, à mão – está claro –, e eis que me refastelo no sofá, para tentar ver televisão. TENTAR (atenção ao verbo).
A dona televisão da sala, do alto dos seus 13 anos, decidiu desobedecer-me!
Há vários dias que ela tinha um caso com o secador de cabelo e só trabalhava depois de umas sopradelas do dito na parte superior. Não sei se o caso era de amor ou de saúde (reumático, talvez).
Mas ontem não houve secador que lhe valesse. Talvez tenham tido um arrufo na minha ausência, durante o dia!
Mais de 10 minutos de “ventilação assistida” e apenas uns riscos horizontais, que me lembram que em aparelhos de televisão a eutanásia é permitida e que não vale a pena enervar-me e fazê-la sofrer mais nesta fase terminal!
Por razões de decoro não reproduzo aqui neste espaço o comboio de palavrões que verbalizei ontem depois desta revolta dos electrodomésticos, mas deixo um conselho aos mais distraído: tenham sempre atenção aos desejos e aspirações dos vossos electrodomésticos e lembrem-se que nas vossas ausências eles têm tempo para tudo, inclusive para “cozinharem” revoltas.
Upsss, lembrei-me agora que hoje se comemora o aniversário do Regicídio. O melhor é andar de olho nos poucos electrodomésticos que ainda sobram, senão um dia destes sai-me uma espada do microondas, um tiro certeiro das televisões que sobram, ou uma bala perdida do DVD).
Despeço-me com amizade e pés molhados,
Até à próxima inundação.

Já volto, vou ali comprar umas galochas, para as próximas inundações, umas flores pró enterro da TV… e um rádio a pilhas, pra ouvir os relatos da bola!!!!!